"I WANT MY MTV!" (Mais um pensamento em voz alta...)


Quando começou a emitir, em Agosto de 1981, a sigla MTV era sinónimo de “Music Television”. Hoje, vinte e quatro anos após o seu aparecimento, a MTV representa muito mais do que um simples canal de música. Nos tempos que correm, MTV é sinónimo de uma das mais poderosas e influentes redes de televisão mundiais. Não deve haver ninguém no "mundo civilizado", com menos de 30 anos, que não conheça o canal, um dos mais populares da história da televisão. Penso que não exagero se afirmar que na história da música popular houve um antes e um pós-MTV. Ao longo destas últimas duas décadas, a MTV construiu algumas carreiras, destruiu outras, influenciou comportamentos, lançou modas e antecipou tendências, mas, acima de tudo, definiu a música que o mundo devia ouvir. E o mundo...ouviu! Durante largos anos, o sucesso de um determinado artista mediu-se pela quantidade de vezes que os seus vídeos rodavam na MTV. O seu poder e influência no seio da indústria discográfica é gigantesco. Não há editora que não faça qualquer coisa para ver os vídeos dos seus artistas rodar na MTV. Actualmente, mais do que uma marca, a MTV é uma multinacional do entretenimento. Como qualquer outra multinacional, o seu principal objectivo (e único?) é obter o máximo lucro e engordar a conta bancária de todos os seus accionistas. Mas, mais do que uma marca ou um simples canal de televisão, a MTV é hoje uma das mais poderosas e bem oleadas máquinas de propaganda da cultura norte-americana em todo o mundo. São mais de 100 os canais que a Viacom (a empresa mãe da MTV) tem por todo o mundo. Um deles é a MTV Portugal. Lançado há cerca de 2 anos, o país musical aplaudiu efusivamente a chegada do popular canal, como se este se tratasse de uma espécie de D. Sebastião da música Portuguesa. Passados dois anos após a sua estreia, há uma série de questões e dúvidas que pairam no ar: afinal, que benefícios reais trouxe a MTV à indústria discográfica nacional? Que artistas beneficiaram com a entrada da estação em Portugal (os Blind Zero? Da Weasel? Gomo?)? Que atenção tem prestado a MTV aos artistas nacionais? Quantos vídeos de artistas portugueses rodam na playlist do canal? Quantos artistas ou bandas portuguesas vimos actuar nos ecrãs da MTV? (Apenas me lembro dos Blind Zero e The Gift...) E quantas entrevistas foram feitas com artistas “tugas”? E quantas reportagens de concertos? E, já agora, em quantas bandas novas apostou a MTV desde que aterrou entre nós? Não as suficientes, garanto-vos! Sejamos claros, com menos meios, e apesar dos equívocos que viriam a condenar o seu futuro, o Sol Música fez bem mais e melhor pela música produzida neste país. O caro leitor poderá sempre questionar: mas será essa a “obrigação” da versão lusa da MTV, dinamizar a indústria dos discos local e empenhar-se na divulgação dos artistas e as bandas que (com as dificuldades que se conhecem) fazem música em Portugal? Assim a cru, a resposta é “claro que não”! Porque o deveria fazer? Afinal, a MTV não é nenhum canal financiado pelo Estado Português, logo não tem qualquer obrigação de fazer serviço público (o que quer que isso seja). Certo. Mas, e segundo essa lógica, alguém me explica o que justifica a existência de uma MTV exclusivamente dirigida ao mercado Português? Não tinha mais sentido continuarmos a receber o “feed” da MTV Europe? Afinal, e bem vistas as coisas, tirando a “voz-off”, a publicidade local, alguns programas legendados em Português e a passagem de um ou outro vídeo de artistas nacionais, será que existem assim tantas diferenças entre a MTV Europe e o seu “franshising” lusitano? Enfim, cada um que descubra as diferenças.
Nos últimos anos, a MTV alterou a sua orientação e apostou forte numa estratégia de renovação do seu público. A “televisão da música” que todos conhecíamos transformou-se num canal de “lifestyle”, destinado a um público adolescente, com idades compreendidas entre os 14 e os 24 anos. Não critico esta opção. É perfeitamente legítima de um ponto de vista empresarial e estratégico. Como melómano e espectador da estação, aquilo que me incomoda, e me faz alguma confusão, é que um canal que insiste em chamar-se “Music Television” ter relegado a música para um plano secundário, para não dizer decorativo. Por favor, corrijam-me se estiver errado, mas um canal chamado “Music Television” não deveria dedicar-se 100% á divulgação de música? E não deveria ter na sua grelha exclusivamente programas de e sobre música (entrevistas, concertos, reportagens...) em vez de “reality shows” idiotas e concursos absurdos? No meio de tanto lixo, alguém me diz onde pára a música? Alguém imagina o Eurosport a transmitir “reality shows” com antigas estrelas do desporto ou programas onde vedetas do Atletismo nos mostrariam as suas belas casas, os seus potentes carros e o seu magnífico guarda-roupa? Pois..., não me parece! Desculpem o meu “conservadorismo” em relação a esta matéria, mas cresci a ver a MTV e programas como o “120 Minutes”, “Alternative-Nation”, “Most Wanted” e “MTV Unplugged”. Programas de música para quem gosta de música. De certa forma, e não me custa admiti-lo, eu pertenço à geração MTV. Foi através do canal que descobri muitas das bandas que hoje admiro. Noutros tempos, a divulgação de novos nomes era uma prioridade para a estação. Hoje, com a excepção de um pequeno “oasis” chamado “Brand: New”, acontece precisamente o contrário. A MTV não divulga, não antecipa tendências, não cria fenómenos. Decididamente, esta não é a minha MTV! " I want my MTV! "
P.S. - Prosa escrita algures entre os dias 1 e 14 de Agosto.